Desafios políticos e econômicos pressionam o Planalto a encontrar um símbolo que represente os rumos da administração.
Em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta o desafio de construir uma identidade clara para sua gestão. Desde a posse, em janeiro de 2023, o governo tem buscado uma marca que sintetize suas prioridades, mas enfrenta dificuldades para traduzir suas políticas em um símbolo capaz de engajar a sociedade e fortalecer o apoio popular.
A construção de uma “marca de governo” é uma estratégia comum em administrações públicas para alinhar discursos, comunicar resultados e fortalecer a imagem política. No caso de Lula, a pressão por uma identidade é ainda maior devido ao cenário polarizado que marca o Brasil. Até o momento, programas como o “Desenrola”, voltado à renegociação de dívidas, e ações na área ambiental têm recebido atenção, mas ainda não consolidaram uma narrativa única que conecte a gestão ao imaginário popular.
A comparação com gestões anteriores reforça esse desafio. No primeiro mandato de Lula, o discurso de ascensão social, simbolizado por programas como o Bolsa Família, foi determinante para consolidar a popularidade do governo. Já agora, a busca por uma nova marca precisa dialogar com questões contemporâneas, como sustentabilidade, inclusão digital e combate às desigualdades econômicas e regionais.
Para especialistas, a falta de uma narrativa clara reflete desafios internos na coordenação do governo. Ministérios que atuam de forma descentralizada e disputas políticas dentro da base aliada dificultam a comunicação unificada. Além disso, a economia ainda se recupera de um período instável, o que impacta a percepção pública. Mesmo com sinais de recuperação econômica e inflação controlada, a população continua a sentir os efeitos de juros altos e crescimento moderado, o que dificulta a criação de uma agenda otimista.
A recente reformulação do Bolsa Família, com foco em benefícios adicionais, é um exemplo de tentativa de criar uma nova marca. No entanto, especialistas apontam que o impacto de políticas sociais precisa de tempo para gerar resultados visíveis, especialmente em uma sociedade marcada pela pressa por soluções imediatas. A questão ambiental, liderada pela ministra Marina Silva, também é considerada uma área promissora para reforçar a identidade do governo, mas enfrenta resistência em setores ligados ao agronegócio.
Do ponto de vista de gestão, o desafio do governo é alinhar estratégia política, planejamento econômico e comunicação institucional. Sem uma narrativa sólida, o risco é que ações fragmentadas diluam a percepção pública sobre o governo, criando uma sensação de ineficácia. A busca por uma marca é, em essência, uma busca por coesão, algo fundamental em um cenário político tão dividido.
